Arquivo | setembro, 2010

Sobre a felicidade

26 set

Recentemente, li um pequeno livreto chamado Sobre a felicidade, cujo conteúdo é a transcrição de uma palestra homônima proferida por Pierre Teilhard de Chardin, em Pequim, no dia 28 de dezembro de 1943.

Por ter sido um padre católico, Teilhard de Chardin propõe em alguns momentos uma visão cristã. Mas, na maior parte do tempo, o discurso se apresenta independente de religiões (mas densamente espiritual).

Gostaria de destacar e compartilhar um desses trechos (páginas 39 a 43 do livro), que em minha opinião sintetiza as ideias propostas no discurso.

(…) A verdadeira felicidade, acabamos de precisar, é uma felicidade de crescimento, e como tal ela nos espera em uma direção determinada por meio da
– unificação de nós mesmos em nosso âmago [centração];
– união de nosso ser com outros seres, nossos semelhantes [descentração];
– subordinação de nossa vida a uma causa maior que a nossa [supercentração].
(…)
1. Centração
Para ser feliz é, de início, necessário reagir contra a tendência do menor esforço, que leva ou a ficar imóvel, ou a buscar, de preferência na agitação exterior, a renovação de nossa vida. Sem dúvida, é necessário que nos enraizemos profundamente nas ricas e tangíveis realidades materiais à nossa volta. Mas é no trabalho de nossa perfeição interior – intelectual, artística, moral – que enfim a felicidade nos espera. A coisa mais importante na vida, dizia Nansen, é encontrar-se a si próprio. O espírito laboriosamente construído através e além da matéria.
2. Descentração
Para ser feliz, em segundo lugar, é necessário reagir contra o egoísmo que nos leva ou a nos fecharmos em nós mesmos ou a submetermos os outros ao nosso domínio. Há uma maneira de amar – má, estéril – segundo a qual buscamos possuir, em lugar de nos darmos. E é aqui que reaparece, no caso do casal ou do grupo, a lei do maior esforço, que já regia o curso interior de nosso desenvolvimento. O único amor realmente beatificante é aquele que se exprime por um progresso espiritual realizado em comum.
3. Supercentração
E, para ser feliz – realmente feliz – é necessário, de uma maneira ou de outra, diretamente ou graças a intermediários gradualmente ampliados (uma pesquisa, uma empresa, uma idéia, uma causa…), transportar o interesse final de nossas existências para o andamento e o sucesso do Mundo à nossa volta. (…) é necessário, para atingirmos a região das grandes alegrias estáveis, que façamos a transferência do pólo de nossa existência a algo maior que nós. O que não supõe, tranquilizem-se, que para sermos felizes, devamos realizar ações grandiosas, extraordinárias, mas somente aquilo que está ao alcance de todos; que, conscientes de nossa solidariedade viva com Algo maior, façamos de maneira grandiosa a menor das coisas. Acrescentar um único ponto, por menor que seja, à magnifíca trama da Vida; discernir o Imenso que se faz e que nos atrai no âmago e no fim de nossas ínfimas atividades; discerni-lo e aderir a ele: tal é, no final das contas, o grande segredo da felicidade. “É em uma união profunda e instintiva com a corrente total da Vida que reside todas as alegrias”, reconhece o próprio Bertrand Russell, uma das mentes mais aguçadas e menos espiritualistas da Inglaterra moderna. (…)

Sugestão de leitura: Teilhard de Chardin, Pierre. Sobre a felicidade / Sobre o amor. Verus Editora, 2005.

Sobre o aniversário

19 set

Nascido a 13 de setembro de 1979, no início dessa semana completei 31 anos de idade.

Esses períodos próximos ao aniversário costumam ser de bastante reflexão e introspecção para mim. Momento em que geralmente faço um balanço do que já foi, do que está sendo, do que poderá um dia ser…

Nem sempre os sentimentos são muito animadores, mas quando a coisa começa a ficar séria demais é bom dar um toque um pouco mais otimista e bem humorado. Ficamos mais velho, mas a vida é assim para todos. O tempo passa sem distinção…

Uma companheira de aniversário (nascida a 13 de setembro de 1830), a escritora Marie von Ebner-Eschenbach certa vez escreveu:

Uma pessoa permanece jovem na medida em que ainda é capaz de aprender, adquirir novos hábitos e tolerar contradições.

Apesar de ficar mais velho, vale a pena ter em mente o que é necessário para se permanecer jovem.

Forever Young

Que você permaneça sempre jovem, apesar da idade.

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[Atualização em 26/09/2010] Certamente a minha incipiente experiência de paternidade também tem me proposto esse mesmo exercício: capacidade de aprender, adquirir novos hábitos e tolerar contradições. Capacidade de aprender a ser pai, de aprender com o novo que surge, de aprender a lidar com novas demandas e a nova e especial função. Adquirir novos hábitos é uma condição intrínseca para os novos pais, que aos poucos percebem a mudança de ritmo e de prioridades em suas vidas. E, em momentos de transição, vez ou outra surgem algumas contradições (a vontade e a necessidade de exercer a função de pai em choque à vontade de se dedicar a algum passatempo, e coisas assim).

Poesia do cotidiano – Birds on the wire

10 set

(If you can’t read in Portuguese, just watch the movie bellow. Audio in Portuguese and subtitles in English).

É bem provável que você, raro leitor, já tenha visto esse vídeo alguma vez na Internet, porque isso já aconteceu há algum tempo (em fins de 2009). No entanto, esse belo material chegou ao meu conhecimento apenas por esses dias, e me encantou bastante.

Trata-se do vídeo “Birds on wire”, apresentado no TEDx SP 2009 e que apresenta a bela iniciativa de Jarbas Agnelli que, a partir de uma foto de jornal em que apareciam pássaros no fio, fez uma música com a “partitura” sugerida.

A beleza da música e da iniciativa de Jarbas Agnelli é inquestionável. Mas há algo mais sutil, e que foi o que mais me chamou a atenção no vídeo, provavelmente porque ressoa em mim. Trata-se da seguinte afirmação de Agnelli:

É possível ver poesia em qualquer lugar, depende só do jeito que a gente olha. É possível realizar isso, depende da gente ter alguma iniciativa.

Concordo plenamente: É possível ver poesia em qualquer lugar.

Sem mais delongas, veja o vídeo abaixo. Áudio em português, legendas em inglês.

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