Arquivo | março, 2009

Leitura: Sidarta

12 mar

Caminante son tus huellas el camino y nada más;

Há algum tempo atrás, ganhei um livro de meu melhor amigo. Trata-se de Sidarta, escrito por Hermann Hesse em 1922, inspirado em sua viagem à Índia 11 anos antes. O enredo é simples e a leitura é fácil.

 

Trata-se da jornada de um jovem brâmane, rico, bonito e inteligente que decide renunciar àquela sua vida e transforma-se num asceta, num peregrino desprovido de bens. E segue-se a narração de sua tortuosa jornada, integrando aspectos materiais e carnais, tentações e sabedoria, rumo à Iluminação.

Apesar de ser uma narrativa curta, a história de Sidarta nos convida a reflexão de temas muito importantes. Retrata de certa forma nossas angústias ocidentais pós-modernas, especialmente o (des)equilíbrio entre o individualismo e a busca por autoconhecimento e sabedoria. Evoca-nos a pensar sobre a essência, sobre a condição relativa que permite o encontro com o Absoluto, sobre o processo de iluminação do ser humano.

Em certo trecho do livro, quando Sidarta encontra Gotama – o Buda histórico – diz a este: “(…) ninguém chega à redenção mediante a doutrina. A pessoa alguma, ó Venerável, poderás comunicar e revelar por meio de palavras ou ensinamentos o que se deu contigo na hora da tua iluminação. (…)” (pág. 50). Esse diálogo expressa muito bem o ponto de vista de Sidarta: a experiência viva é mais valiosa que qualquer doutrina no caminho da sublimação humana. Por isso, após aquele encontro com o Buda, Sidarta buscará experiências sensoriais de modo a integrar em sua jornada os aspectos materiais e espirituais, que ilusoriamente (e dialogicamente) separamos.

 

Nessa jornada, estamos sozinhos. Cabe a cada um encontrar e seguir seu caminho. Doutrinas e mestres podem nos ajudar inicialmente. Mas, para o caminho da iluminação, da sublimação, mestres e doutrinas serão inócuos. A experiência viva – a arte da plenitude e da atenção – é quem de fato nos conduz ao objetivo final e supremo. A atenção ao inesperado, o despertar dos sentidos para as coisas mais simples nos faz compreender que, quando se está atento, qualquer sinal pode ser guia (mestre) em seu caminho.

Há um texto interessante, atribuído ao filósofo Friedrich Nietzsche, que reforça essa lição de sabedoria: “Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semi-deuses que se oferecerão para levar-te além rio; mas, isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!”.

Ou ainda, como diz o poeta espanhol António Machado: “Caminante son tus huellas / El camino y nada más; / Caminante, no hay camino / se hace camino al andar”. (Tradução livre: “Caminhante são tuas pegadas / o caminho e nada mais; / Caminhante, não há caminho / faz-se o caminho ao andar”).

 

E agora, José?

Poesia Avulsa I

1 mar

O silêncio, escuro e difícil,

Reproduz-se em ruidosas sucessões de imagens

E explode em visões e projeções

Para culminar em um breve

(Quase imperceptível)

Vazio branco.

E então, quando o tempo suspende,

E o mundo pára neste instante

Infinitesimal,

Uma voz serena sugere:

Serenidade.

(Brunno, 28/06/2007)