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Lembrar-se do essencial

13 maio

 

Era uma vez um cidadão ocidental que resolveu ir passar as férias fora da Europa e visitar a China. Depois de alguns dias de passeio, encontrou uma chinesa toda charmosa. Ele a achou tão linda, por dentro e por fora, que se apaixonou por ela. A paixão foi tão violenta que resolveu ficar noivo. Comprou uma aliança, enfiou no dedo dela e ela compreendeu por aquele gesto que ele estava resolvido a se casar.

Havia só um obstáculo: ele não sabia falar nem escrever em chinês. Por essa razão, despediu-se da moça e, por intermédio de um intérprete, explicou que ia voltar para sua terra, a fim de aprender chinês e depois casar. A noiva achou isso bastante razoável e concordou plenamente.

Voltando para a sua terra, o rapaz se matriculou primeiro num curso audiovisual de chinês. Depois de algum tempo, chegou à conclusão de que não era suficiente e fez o vestibular na universidade de sua cidade, para fazer uma licenciatura de chinês. Depois de uns três anos, passou brilhantemente nos exames, o que a encorajou a se matricular no doutoramento. Depois de alguns anos, a sua tese foi recebida com felicitações da banca. Em pouco tempo, tornou-se um dos maiores sinólogos do mundo. Muitas editoras pediram e publicaram traduções.

Um dia, depois de uns vinte anos, um amigo perguntou por que é que ele havia aprendido chinês com tanto entusiasmo. Ele refletiu, pensou profundamente e, de repente, colocou a mão na cabeça e exclamou: “Meu Deus! Eu me esqueci da minha noiva!”.

Essa história tem muitas aplicações, mais particularmente no que se refere aos caminhos espirituais. Não somente algumas tradições espirituais se esqueceram de sua razão de ser, aplicando rituais e recomendando dogmas desprovidos de sentido, mas muitos de nós podemos ficar estagnados numa prática ou num assunto que nos encantou e esquecemos do essencial: a descoberta da nossa verdadeira natureza.

Retirado do livro “Lágrimas de Compaixão”, de Pierre Weil, editora Pensamento (2000), página 214.