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Sobre jardineiros e outras coisas

21 fev

Ontem (sexta-feira, 19/02) assisti a uma palestra feita por dois mestres espirituais da tradição budista. O brasileiro Lama Padma  Samten, representante do budismo tibetano, e um estadunidense, representante do zen budismo. O tema da palestra foi “A visão de Buda em meio ao mundo”, de modo a tentar ilustrar como a milenar sabedoria budista pode ser aplicada em nosso cotidiano atual e, especialmente, como superar as aflições que surgem nesses tempos modernos.

Como não sou budista, creio que minha compreensão de todo o tema tenha sido um pouco comprometida, apesar da clareza no discurso dos dois. Mas um trecho em particular chamou-me muito atenção. O monge zen budista fez uma metáfora sobre o jardineiro, que tentarei reproduzir com minhas palavras.

Woman in the Garden. Sainte-Adresse. 1867. Claude Monet

A semente traz em si mesma todas as suas potencialidades, todas as informações genéticas daquela planta que ela poderá vir a ser. O jardineiro não precisa incentivá-la, nem dizer-lhe o que precisa ser feito para ela se tornar uma planta. Ao jardineiro cabe apenas preparar o terreno e fornecer-lhe as condições (irrigação, adubo, etc) para que a semente desenvolva seu potencial.

Penso que é a metáfora ideal para o educador. E inclusive creio já ter visto essa comparação feita por alguém, não me lembro exatamente que. (Seria o Rubem Alves? É possível…). O educador é aquele jardineiro que oferece as condições necessárias para o desenvolvimento de uma pessoa. É aquele que facilita o processo para que a pessoa se torne quem ela já é (mas ainda não se manifestou). O termo educação significa justamente “conduzir para fora”, isto é, dar condições para que o outro manifeste sua essência.

Bacana, não?

Atualização [02/03/2010]: Está disponível no YouTube um conjunto de vídeos dessa palestra, para quem quiser assistir

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Por falar em religiões… Um grande amigo meu, ao saber que os nomes escolhidos para o bebê seriam João ou Maria, fez-me a seguinte pergunta, segundo ele ‘só para me provocar’: “São nomes bem católicos, hein?”

Quando ele diz que é ‘só para me provocar’, é porque ele sabe que já fui católico praticante (ir às missas, fazer trabalho pastoral e voluntário, missionário, etc), mas há alguns anos deixei de seguir essa religião. O motivo foram questionamentos e reflexões pessoais, que não vem ao caso nesse momento. Apesar de ter deixado de seguir a religião, é impossível não reconhecer que boa parte da minha formação e ética se baseiam mesmo no cristianismo (como a maioria dos ocidentais, certo?).

Mas voltemos ao assunto. Fiquei contente com a pergunta, porque pude perceber que aquela negação (aversão, ou coisa parecida) à religião que havia logo depois que deixei de praticá-la, amenizou-se ou talvez tenha acabado.   Isso não quer dizer que voltarei, no momento estou muito bem assim. (Afinal, espiritualidade não depende de qualquer religião). Tudo se passou em minha cabeça em questão de segundos, e logo em seguida eu já estava respondendo.

Respondi que sim, que de fato são nomes bem católicos. (Maria é a mãe de Jesus. João foi um dos discípulos, aquele a quem o Mestre mais amava segundo algumas versões). Mas, sinceramente, não houve motivação religiosa para a escolha dos nomes. Minha esposa e eu optamos por esses nomes porque achamos bonitos.

Segundo a pesquisa que minha esposa fez posteriormente à escolha, o significado do nome de nosso futuro filho João é “graça de Deus, agraciado por Deus”. E acho que a maioria concorda que isso não depende de qualquer religião. Não é mesmo?