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Infinito Particular

13 dez

 

Estou relembrando de uma experiência ocorrida (mais ou menos) recentemente, há umas três semanas, quando viajava de carro de Brasília a Campinas. Gostaria de compartilhar com aqueles que tiverem interesse.

Em certo trecho do Triângulo Mineiro, fiquei a contemplar a paisagem. Era fim de tarde, e o sol em breve iria se pôr. A estrada ia reta, cortando uma vasta planície de pastos e plantações, sem muitas árvores. Olhei para meu lado direito e avistei o horizonte curvando-se distante ao fundo. Do lado esquerdo, igualmente. Tive uma sensação de grandiosidade da natureza, a vasta paisagem invadindo meus sentidos. Pensei então que, se eu tivesse ali um mapa, sequer conseguiria distinguir aquelas paragens entre Uberlândia e Uberaba. Veria apenas dois pequenos pontos, identificados com os nomes municipais. Em comparação com o tamanho do Brasil, aquela vasta paisagem era praticamente nada. E, continuando com esse pensamento, percebi que o imenso Brasil corresponde a uma pequena porção de toda a superfície terrestre. E o planeta Terra é um pequeno ponto azul girando, juntamente com outros planetas (alguns bem maiores), em torno do Sol, o astro-rei de nosso sistema solar. Este mesmo Sol que é uma estrela de quinta magnitude, uma pequena estrela (há outras muito maiores) entre as bilhões de outras estrelas que fazem parte de nossa galáxia, a Via Láctea, situando-se em sua periferia. A Via Láctea, por sua vez, é apenas uma dos muitos bilhões de galáxias que se estima haver no Universo. E, como se sabe, a ciência admite a hipótese de haver não apenas o Universo, mas sim Multiversos (uma pluralidade de universos).

Ao acompanhar a extrapolação desses pensamentos, dei-me conta da minha pequenez. Da pequenez do ser humano. Não é a primeira vez que isso me acontece, mas foi uma experiência muito significativa. Senti-me minúsculo diante da paisagem mineira, insignificante perante a provável existência de Multiversos. E, imediatamente, senti-me transpassar pelo Infinito. O Multi-Universo, infinitamente grande, composto de uma quantidade quase sem-fim de astros, no qual estou infinitesimalmente imerso. E o universo que eu também sou, infinitamente pequeno, pequeniverso, composto de infinitas partículas infinitesimais.

Infinito

2 dez

Em sua obra “Rumo ao Infinito”, Pierre Weil reflete inicialmente sobre a palavra definir. Definir corresponde ao ato de delimitar, de pôr um limite, estabelecer um fim. Trata-se de uma compulsão limitativa, uma necessidade de nomear, o recorrente esforço de descrever e explicar, algo que parece muito comum a todos nós sere humanos. No entanto, seria paradoxal definir o Infinito, que por essência é sem-fim, in-definido e in-definível.

O que Pierre Weil propõe é uma nova palavra: infinir. É um verbo que inexiste em qualquer idioma, o que reforça essa nossa dificuldade em permitir a in-definição, ou melhor, a não-definição, ou ainda – usando o neologismo – a infinição. No caso específico desse livro, trata-se de um ensaio sobre a infinição, um estudo sobre representações do Infinito nas manifestações artísticas, nas pesquisas científicas, em algumas teorias filosóficas, nas tradições espirituais e também através de reflexões pessoais do autor.

Alguns aperitivos:

“O meu entendimento que é finito não pode compreender o Infinito” (René Descartes)

“Ter o Infinito na palma de sua mão e a eternidade numa hora” (William Blake)

“A Verdade é infinita: por isso não pode ser conhecida por termos finitos” (Joel S. Goldsmith)

“Fizeste-me sem fim, pois este é o teu prazer.

Continuamente esvazias este frágil vaso,

Para em seguida preenchê-lo, com a água viva do teu amor.

Levaste, por vales e montanhas, esta flautinha de bambu,

E nela sopraste tuas canções imortais…”

(Tagore)

“A espantosa realidade das coisas

é a minha descoberta de todos os dias.

cada coisa é o que é, e é difícil explicar

a alguém quanto isso me alegra,

e quanto isso me basta.

Basta existir para ser completo…”

(Alberto Caeiro / Fernando Pessoa)

 

Fica então a dica de leitura, para quem se interessa pelo tema:

“Rumo ao Infinito”, de Pierre Weil. Editora Vozes, 2005.

* * *

Nos próximos dias estarei em viagem, de modo que não sei exatamente quando voltarei a publicar algum texto. É provável que somente após o dia 10/12 (quarta-feira que vem), quando estarei de volta. Entretanto, se houver tempo, conexão Internet disponível e uma idéia ou algo interessante a dizer, farei meu registro no Olhar Mutante durante a viagem.